Indício de propina complica (ainda mais) a vida do prefeito
A história política de Barbosa Neto (PDT) vai ficando a cada dia mais suja que pau de galinheiro, foi a expressão popular ouvida no calçadão de Londrina, diante das denúncias e acusações que já explodiram contra o alcaide, sua esposa e principais auxiliares da administração municipal.
Retrato da moralidade que entrou na Prefeitura prometendo uma limpeza completa, cercou-se de auxiliares que foram gradativamente complicando sua vida, ao ponto de empurrarem para o abismo a própria imagem da esposa, Ana Laura Lino, apanhada no contrapé de uma situação que até hoje gera comentários na cidade.
Se Brasília teve um dia “anão do orçamento”, Londrina ganhou um “baiano do orçamento” na figura do ex-chefe de gabinete Fábio Góes que agora é citado diretamente como “a mão da propina” que está acusado como aquele que supostamente recolheu dinheiro de empresários de Londrina para pagar propina para pelo menos um dos dois ex-deputados federais fluminenses, Léo Vivas (PRB) e Vinicius Carvalho (PTdoB), denunciados ao Ministério Público Federal como encarregados de “ um senhor negócio”.
Esta suspeição mais o esquema de corrupção com ONGs que sucederam ao Centro Integrado de Apoio Profissional (CIAP) de Dinocarme de Oliveira, hoje preso, e que complicaram a vida dos Institutos Gálatas e Atlântico, motivaram a aprovação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) que, através de 11 votos e cinco abstenções, tornou realidade uma investigação que promete ir a fundo em todas as estripulias envolvendo a administração Barbosa Neto à frente da Prefeitura Municipal de Londrina.
Histórias
São muitas, e não é de hoje, as histórias e estórias que complicam a imagem do atual prefeito de Londrina, Barbosa Neto, que chegaram a arrastar até mesmo sua esposa, Ana Laura Lino e vários auxiliares de sua administração, todos suspeitos de envolvimentos em situações de corrupção e improbidade administrativa.
A recente revelação de “um senhor negócio” como se falou amplamente, levantando as suspeitas de que o ex-chefe de gabinete da Prefeitura, Fábio Góes, teria sido o intermediário dos acertos de recebimento de dinheiro de empresários de Londrina e entrega da propina para que os ex-deputados fluminenses Léo Vivas e Vinicius Carvalho incluíssem no orçamento da União deste ano R$ 18,5 milhões em repasses à cidade paranaense.
Os indícios de propina despertaram o interesse do Ministério Público Federal que suspeitou quanto à “generosidade” dos dois ex-deputados fluminenses que destinaram a Londrina emendas orçamentárias em valor quatro vezes maior ao total de emendas apresentadas por sete deputados paranaenses entre 2008 e 2011.
Em desdobramento a Operação Anti-sepsia, no qual a Polícia Federal já havia levantado desvios de verbas na área de saúde, que complicou inicialmente o CIAP, presidido por Dinocarme de Oliveira, atualmente preso por negócios de milhões que motivaram ações da Justiça Federal contra o mesmo e vários outros denunciados.
Sucedendo ao CIAP, os Institutos Gálatas e Atlântico também se tornaram motivo de investigações, com as denúncias envolvendo inclusive a esposa do prefeito Barbosa Neto, que foi escrachada por causa de uma denúncia feita em depoimento ao Ministério Público Estadual que completava os resultados de investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) no desvio de recursos da área da saúde, denuncia esta do conselheiro municipal de saúde e funcionário público municipal, Marcos Ratto.
Na época, Petrônio Cardoso, advogado de Marcos Ratto, disse claramente que “o papel de maior importância está centrado na esposa do prefeito”, informando ao Ministério Público Estadual a influência de Ana Laura Lino na contratação do Instituto Atlântico, presidido por Bruno Valverde, com quem a primeira-dama de Londrina tinha uma relação muito estreita como se revelou na época.
Ana Laura Lino, a mulher do prefeito, se dizia abertamente, embora não fosse Secretária Municipal da Saúde, era que mandava e desmandava na área da saúde de Londrina.
Esquemas
A estreita relação do prefeito Barbosa Neto com esquemas suspeitos de corrupção vem de longa data e o próprio alcaide admitiu que Dinocarme de Oliveira, o “dono” do CIAP, que mais tarde explodiu em grande escândalo que o levou à prisão, teria sido doador de sua campanha quando candidato a deputado federal.
Reportagem publicada pelo Correio Brasiliense em 30 de junho de 2008 escrachou Laurano Ribeiro Lopes, ex-assessor de Barbosa Neto, à época deputado federal, que teria testemunhado negociações entre Barbosa, sua esposa Ana Laura e Dinocarme, as quais seriam resultado da assinatura de um convênio de R$ 3 milhões entre o CIAP e o Ministério do Trabalho, via Projovem, no final de 2007.
Histórias e estórias envolvendo o prefeito, esposa e outros, chegaram a motivar, inclusive, uma prisão na casa do deputado federal Alex Canziani (PTB), que foi aliado de Barbosa Neto no primeiro turno de eleições em Londrina, conforme acusação de extorsão em flagrante que teria sido armado por Barbosa Neto.
Com a recente revelação de um esquema de propina que teria gerado o pagamento a dois ex-deputados federais pelo negócio de emendas orçamentárias da ordem de R$ 18,5 milhões para a administração de Londrina, volta a cobrir a Prefeitura local com o manto da corrupção, motivando a ação do Ministério Público Federal em busca da verdade.
Reportagem
Nesta semana Londrina voltou às manchetes não apenas através da Gazeta do Povo e do Jornal de Londrina, mas explorado por outros veículos de comunicação do estado, uma nova e escandalosa denúncia que sujam, ainda mais, o já borrado pau de galinheiro onde estaria pendurado o prefeito alvo de tantas suspeitas.
Barbosa Neto diz que as suspeitas não são verdadeiras, pois se tratou, digamos, de “camaradagem” de ex-deputados, seus amigos dos tempos em que era deputado federal que teriam feito uma “gentileza” destinando emendas orçamentárias para este ano a favor de Londrina na ordem de R$ 18,5 milhões.
Denunciada a suspeita situação, que identificou indícios de propina, e da grossa, envolvendo esta ação entre Barbosa Neto e os ex-deputados Leo Vivas e Vinicius Carvalho, ficou claro que a tal “importação de recursos” não teria sido saído de graça.
Nessa cortesia com o chapéu alheio estaria a suspeita do pagamento de uma propina de R$ 925 mil, assunto de investigação por parte do Ministério Público Federal.
Vivas e Carvalho, os dois generosos deputados amigos de Barbosa Neto, são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, sendo o primeiro bispo e o segundo pastor.
Propina
Para pagar esta gentileza parlamentar, as reportagens desta semana revelaram que o ex-chefe de gabinete Fábio Góes, que em Londrina já vem chamado de “baiano do orçamento”, em alusão aos “anões do orçamento” de triste memória em Brasília, é o principal denunciado nesta história toda, por ter sido supostamente quem recolheu o dinheiro junto a empresários londrinenses para pagar as emendas.
Em maio último, o empresário Wilson Vieira contou ao GAECO este senhor negócio, dando conta de que os R$ 925 mil da propina teriam sido repassados em duas vezes, dinheiro que foi colocado nas mãos de um tal JB, que seria assessor do ex-deputado Leo Vivas.
As emendas foram apresentadas em 25 de novembro e o pagamento da propina teria acontecido em dezembro, em duas parcelas, sendo que no depoimento Wilson Vieira deu conta de ter acompanhado Fábio Góes em uma das entregas e na segunda parcela foi ele mesmo o portador da “mixaria”, chegando ao detalhe de que deu ao assessor de Vivas um cheque de R$ 70 mil de sua empresa.
Depois deste primeiro depoimento ao GAECO, Wilson Vieira, em nova revelação, agora no Ministério Público Federal, contou que um cheque de R$ 40 mil de sua empresa, que fora solicitado por Fábio Góes, foi depositado na conta de Bruno Valverde, da ONG Instituto Atlântico, mas voltou por falta de fundos, sendo que Valverde teria repassado R$ 20 mil para o ex-chefe de gabinete de Barbosa Neto, o “baiano do orçamento”, Fábio Góes.
A mudança de alguns termos das declarações de Wilson Vieira, inclusive em relação ao valor de cheque de sua empresa que no GAECO disse que era de R$ 70 mil e no Ministério Público Federal abaixou para R$ 40 mil, foram justificadas pelo mesmo com a explicação de “estar sendo coagido a prestar as declarações”, explicando que teria sido o esgotamento físico de tantas horas de depoimento no GAECO que o levariam a assinar qualquer coisa.
Inquérito
Enquanto a Prefeitura de Londrina informou através de uma nota que desistiu de tentar liberar estes recursos provenientes das polêmicas emendas que geraram a suspeita e indícios de propina que complicam a já desgastada imagem do prefeito Barbosa Neto, vários outros lances que deixam no ar um esquema criminoso que teria sido registrado com testemunhas na própria Prefeitura, envolvendo Bruno Valverde, Wilson Vieira, Fábio Góes, que acumulava além da chefia de gabinete também a Secretaria do Planejamento, o publicitário Ruy Nogueira e a primeira-dama Ana Laura Lino.
Fábio Góes, que seria o responsável por esta armação toda, entrou de férias na Prefeitura de Londrina em 6 de junho, dia que o MP apresentou as denúncias da Operação Anti-sepsia onde o mesmo estava sob suspeita.
Voltando das férias em 25 de junho, acabou deixando a Secretaria de Planejamento dias depois desse retorno, tendo sido então denunciado pelo Ministério Público por conta de todos estes esquemas e situações suspeitas de corrupção e improbidade administrativa.
Depois de quatro hortas de paralisações, articulações e debates, na última terça-feira (25) a Câmara Municipal de Londrina conseguiu aprovar o relatório da CEI que investigou as relações entre agentes públicos e OSCIPS que mantinham contratos na saúde pública de Londrina.
Com essa decisão, e o relatório assinado pela vereadora Sandra Graça (PP) sugerindo a abertura de uma Comissão Processante que pode chegar à cassação do mandato do prefeito Barbosa Neto, agitam-se os meios políticos locais e a cidade sente nas ruas a discussão das matérias que explodindo vão revelando um estado de coisas que mancha sobremaneira a imagem de Londrina.
E agora?
Barbosa Neto parece estar se acostumando com a atual situação que desde o ano passado vem colocando-o no centro de denúncias e revelações escandalosas, conseguindo com muito jogo de cintura empurrar com a barriga, como se diz, uma punição mais rigorosa que possa causar o impedimento de cumprir o mandato de prefeito até o final de 2012.
Será que conseguirá se manter prefeito de Londrina?
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