10 de jun. de 2011

CPI dos Portos vai contar as barbaridades em Paranaguá

Deputado Douglas Fabrício (PPS), presidente da CPI dos Portos

Desfechada no início do ano passado, a Operação Dallas, da Polícia Federal, desencadeou uma série de ações e investigações que fizeram explodir alguns esquemas de corrupção e improbidade administrativa envolvendo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa).

Trazendo à luz nomes e fatos que vinham saindo dos bastidores para o público em conta-gotas e especulações, a verdadeira situação em andamento no principal porto paranaense e no terminal marítimo de Antonina, identificaram pessoas que já tinham seus nomes comentados nos bastidores, mas revelando, também, gente tida como acima de qualquer suspeita e que estavam contribuindo para esquemas criminosos implantados há algum tempo na administração do Porto de Paranaguá.

Nomes como os de Eduardo Requião, Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, Gilberto Nagasaka Tanaka, Alex Hammoud, Luiz Guilherme Mussi, Jessé Beserra da Silva e as empresas Global Connection Comercial Ltda., Acquaplan, Ecoport, e Fundação Terra, foram citados e investigados durante a Operação Dallas, que colocou também em evidência os nomes de Carlos Moreira Júnior e Agileu Bittencourt, este último auditor do Tribunal de Contas do Paraná.

Sob a presidência do deputado Douglas Fabrício (PPS), a CPI dos Portos promete colocar um paradeiro em situações que há muito tempo vinham sendo comentadas nos corredores e à beira do cais em Paranaguá e Antonina, mas que o governador da época, Roberto Requião (PMDB), procurava disfarçar forçando a imagem de melhor administrador de portos do mundo, seu irmão Eduardo Requião.

Instalada a CPI dos Portos na Assembleia Legislativa, e iniciando trabalhos nestes próximos dias, muitas coisas serão agora reveladas ao público pela ótica dos legisladores paranaenses que pretendem aplicar todas as medidas cabíveis ao estado dentro daquilo que já investigou a Polícia Federal na Operação Dallas e muito mais que se possa revelar em torno dos portos de Paranaguá e Antonina nos últimos tempos.


Operação Dallas

Eduardo Requião: Para o irmão Roberto, o melhor superintendente de porto do sul do mundo... (Foto - Valterci Santos / Gazeta do Povo)
Desfechada em abril de 2010, a operação surpreendeu o Paraná pelo desembarque repentino da Polícia Federal no terminal marítimo de Paranaguá, seguindo com providências dentro da própria Appa e em residências de pessoas que estavam sob a suspeita de atos desabonadores em relação à administração dos portos paranaenses.

Sigilo telefônico, bancário e fiscal foram quebrados por parte da Justiça Federal, surpreendendo pessoas que eram tidas como acima de qualquer suspeita, mas que viram, repentinamente, desabar um castelo de areia que vinha sendo criminosamente construído no litoral.

Daniel Lúcio de Souza, sucessor de Eduardo Requião na Appa e principal ligação com o irmão do governador em várias denúncias que levantavam as suspeitas de uma grande ação criminosa em nosso litoral, virou a principal personagem destas investigações, tanto que chegou a ser preso e somente liberado depois do pagamento de uma fiança de 200 mil reais, tendo contado, então, conforme se imagina, tudo e mais um pouco que vieram identificar a maneira criminosa no comportamento de uns e outros.

Foi através desta Operação Dallas que a Polícia Federal pode levantar as ligações entre Alex Hammoud, empresário e proprietário do Shopping Center Monalisa, em Ciudad Del Este, no Paraguai, e Gilberto Tanaka, empresário e proprietário da Global, que estiveram envolvidos nas investigações geradas com a operação policial.

Foi também por conta da Operação Dallas que a Polícia Federal se inteirou das ligações entre José Maria Moura Gomes e Daniel Lúcio de Sousa, estendendo-se investigações até Maria Alejandra Fortuny, coordenadora-chefe do Grupo Setorial de Gestão Ambiental Mar e Terra (Gamar), da Appa, e Agileu Carlos Bittencourt, funcionário do Tribunal de Contas do Paraná, que segundo as suspeitas facilitava e orientava duvidosas licitações no porto.

Os diálogos e encontros mantidos por suspeitos deixavam muito claro que todos imaginavam estarem isentos de maiores investigações, agindo de forma criminosa em negócios que envolviam o porto e tinham a cobertura dos principais responsáveis pela Appa, no caso Eduardo Requião e posteriormente Daniel Lucio de Souza, superintendentes da administração portuária.

A compra de uma draga na China, que o Impacto PR com exclusividade levantou na época e que parecia bastante suspeita, foi apenas um dos “negócios” em que se envolveu a quadrilha montada no Porto de Paranaguá.

Uma situação de meio ambiente que gerou, também, pesadas multas aplicadas à Appa motivaram as suspeitas de má administração e jogo de interesses escusos que se misturavam a uma farta propaganda do governo Requião, que “vendia” a imagem do irmão, Eduardo, como o melhor superintendente de porto do sul do mundo, seguido posteriormente pelo escolhido Daniel Lúcio de Souza.

Com a posse de Mariozinho Lobo na superintendência da Appa, iniciativa do governo de Orlando Pessuti (PMDB), começou a surgir luz no fim do túnel e as suspeitas começaram a se confirmar de que, realmente, tinha linguiça debaixo de toda a farofa no que se referia às coisas do porto.

O nome do empresário grego George Pantazis, que se envolveu com o porto no caso da draga, também foi lembrado com a Operação Dallas, conforme notícias da época em vários jornais.


Histórias

A Operação Dallas, que agora terá no âmbito político-legislativo uma cobertura mais ampla para revelar com outros detalhes, quem sabe, através de uma CPI, tudo que de suspeito andou acontecendo na Appa, registrou entre outras coisas o apelido de Eduardo Requião, que era tratado no porto como “Crocodilo”, apelido que naturalmente procurava esconder o personagem metido em negócios suspeitos e revelados ao longo das investigações.

Suspeitas de comissões pagas em dólar foram levantadas e deixaram um rastro de nomes que se beneficiavam de algum esquema que criminosamente ia correndo em paralelo a negócios com aparência aparentemente legal.

Os nomes de Luiz Mussi e Carlos Moreira Júnior, integrantes à época do gabinete do governador Roberto Requião, não apareceram pura e simplesmente nas histórias, pois a Operação Dallas somente os colocou em destaque porque encontrou evidências claras de que os mesmos sabiam das coisas e até contribuíam, certamente, para que as elas se encaminhassem conforme os interesses da verdadeira quadrilha instalada no porto de Paranaguá.

Na época, inclusive, Impacto PR levantava a suspeita do porquê de tanto interesse em adquirir aquela draga da China, negócio que acabou permitindo a Polícia Federal sentir que realmente estava lidando com uma verdadeira quadrilha e esquema criminoso que objetivava tirar leite de pedra, isto é, um dinheirinho extra em comissões para todos que facilitavam o tal negócio.

Agileu Bittencourt, auditor do Tribunal de Contas, chegou a viajar para a China acompanhando a comitiva que foi ver a draga de perto, e nos vários diálogos com demais envolvidos em toda esta história levantou as suspeitas que acabaram por levá-lo, também, junto com outros, àquelas detenções que surpreenderam a sociedade paranaense na época.

Nas investigações que envolveram o nome de Eduardo Requião, que a esta altura já se batia com o roubo de uma empregada doméstica que visitou seu guarda-roupa-cofre tirando uma mixaria em relação ao monte de dólares que o mesmo guardava em casa e que não foram até hoje explicados a curiosa sociedade paranaense, levantou-se, também a suspeita de uma remessa de 500 mil dólares para conta do irmão do governador da época, conta esta nos Estados Unidos.

Com a Polícia Federal procurando saber do número da conta do “Crocodilo” nos Estados Unidos, as investigações viajam até o exterior a fim de que tudo seja devidamente esclarecido, assunto que certamente vai desembarcar nesta CPI da Assembleia Legislativa que tem matérias de sobra para deitar e rolar, embasando suas ações de inquérito.

As situações levantadas pela Operação Dallas, segundo aquilo que teria vazado da mesma através de algumas fontes, em comentários que circularam pelos corredores do Centro Cívico, chegam a lembrar da ousadia dos “meliantes”, a ponto de Daniel Lúcio de Souza se sentir tão seguro que teria chegado a mandar seu motorista na Appa ir buscar em sua casa, com esposa Maria Izidora, uma mixaria de 40 mil reais para pagar uma propina e depois mais outra remessa, tudo dentro de um esquema que imaginavam jamais seria descoberto.

Eduardo Requião deve ter muito a revelar, e tudo poderá acontecer nesta CPI, se é que ainda não falou à Polícia Federal, pois seu nome corria abertamente nas investigações da Operação Dallas, inclusive pela suspeita dos companheiros de quadrilha de que o mesmo estaria com negócios dos dois lados, no caso da draga da China, envolvendo as empresas Global e Interfabric, esta última do grego Pantazis.

Dois milhões e meio de dólares é apenas uma das muitas quantias das quais se falava abertamente como comissão de um negócio de 5 milhões de dólares que renderia para a quadrilha pela compra de draga, esquema que Impacto PR já no ano passado antecipou como um senhor negócio, antes mesmo que explodisse a Operação Dallas.

E nessa “briga” interna da quadrilha por causa da “comissão”, revelava-se nos corredores políticos que iriam puxar o tapete e dar a parte de Eduardo Requião para a campanha do Pessuti, que na época, supostamente, seria candidato a governador, sinal claro de que entre os criminosos o “companheirismo” também gera traições.

Com uma porta de entrada na Appa recebendo o nome de “Batcaverna”, apelido que disfarçava um meio de evitar que todos ficassem sabendo quem tratava com quem dentro dessa repartição oficial do porto, as revelações que a Operação Dallas levantou certamente mostraram que a quadrilha agia com objetivos nada recomendáveis.

Carlos Moreira Júnior, o ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que depois de fracassada campanha política para prefeito de Curitiba acabou desembarcando no gabinete de Requião, passando no governo Pessuti a ser secretário da Saúde, naturalmente, por passar a imagem de “bonzinho”, é outro personagem que pode esclarecer alguns fatos nesta CPI, comandada pelo deputado Douglas Fabrício, a respeito de situações que geraram aquela operação da Polícia Federal.


Deputados

Muito mais se poderá falar a respeito da Operação Dallas caso a farta documentação e ações desencadeadas pela Polícia Federal cheguem a conhecimento oficial da imprensa e do público, o que não aconteceu até o presente momento.

Os deputados que participarem desta CPI terão que praticamente começar do zero, mas podem contar com a ampla colaboração da Polícia Federal que certamente vai lhes abrir as portas para que fiquem sabendo de tudo que, por enquanto, se mantém confidencial.

Do andamento da CPI depende o enquadramento de todos os denunciados na Operação Dallas, sabendo-se, contudo, pelos comentários surgidos na própria imprensa, que há provas suficientes para confirmar o conluio entre agentes públicos e privados para que a compra daquela draga na China rendesse uma dinheirama, como dizem, para todos aqueles que direta ou indiretamente tratavam de tornar realidade um senhor negócio.

Impacto PR antecipou várias revelações sobre negócios escusos envolvendo o porto, e continua buscando informações e contatos que além dos corredores do Centro Cívico, onde está o centro do Poder, seja Legislativo, Executivo ou Judiciário, conta ainda com informações de amigos que ligados às atividades do porto há muito tempo nos contam sigilosamente a respeito de situações que agora, nesta CPI, podem perfeitamente serem reveladas com mais detalhes ao público em geral.

A grande verdade, e que naturalmente a CPI dos Portos vai deixar bem claro, é que nada mais será como dantes em Paranaguá.

O porto passa por uma nova fase e as ações, que por muitos anos colocaram a Appa nas manchetes pela farta propaganda de Roberto Requião em relação à administração do seu irmão Eduardo na superintendência, agora se tornaram mais transparentes com as decisões do novo governo paranaense que além de colocar gente da terra e experiente no porto também busca dar conhecimento público de tudo que acontece e sem necessidade de promoção pessoal de quem quer que seja.

Por enquanto, o que mais gerou motivos para uma CPI foi a compra de draga na China, negócio que fez explodir a Operação Dallas, da Polícia Federal, mas certamente há outros “negócios” que vão merecer, também, a mais ampla investigação dos senhores deputados integrantes desta CPI e que poderão ficar sabendo de muitas outras coisas que possam ter rendido estabulações criminosas tanto quanto essas que abriram uma verdadeira caixa-preta.


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