Entretanto, a última edição da IstoÉ me colocou novamente frente a frente com uma situação a qual venho observando e que, infelizmente, acaba por contribuir para que a Justiça, também como a imprensa com as costas largas, acabe levando a culpa maior por determinados comportamentos.
Uma entrevista de Edmundo Alves de Souza Neto, o Edmundo, ex-jogador de futebol e atual comentarista de esportes da Rede Bandeirantes, quando diz “Estou pronto para encarar a cadeia”, ao mesmo tempo em que briga na Justiça para que a prescrição de um caso em que se envolveu, com morte em acidente de trânsito, me levou a recordar, mais uma vez, o acidente de trânsito que se tornou famoso, infelizmente, envolvendo o ex-deputado Carli Filho, que matou dois jovens das famílias Yared e Almeida, em 7 de maio de 2009.
Dois anos se passaram desde aquele triste acidente na Ecoville e, ainda hoje, não apenas as famílias diretamente atingidas por aquela tragédia, mas todas as pessoas que viveram aqueles momentos de terror e que ficaram por muito tempo sendo martelados por idas e vindas de uma situação na Justiça, se desgastaram ao máximo, desacreditaram a Justiça e se envolveram em opiniões as mais variadas, algumas até absurdas, é verdade, mas todas tratando de alguma coisa que há muito tempo poderia estar resolvida e guardada em seus devidos lugares sem que volta e meia voltemos a bater na mesma tecla da impunidade.
São situações complicadas, sem dúvida, as ocorrências que envolvem polêmicos acidentes, e esses dois, o caso do Edmundo e do ex-deputado Carli Filho, aí estão para identificar que alguma coisa está muito errada, e complicando a própria imagem da Justiça.
A possibilidade de prescrição de uma pena a ser imposta ao ex-jogador e responsável por um acidente com três mortes, no final de 1995, no Rio de Janeiro, portanto há 15 anos se arrastando na Justiça, nos coloca diante da possibilidade de que, também no caso do ex-deputado paranaense, a situação se arraste por idêntico tempo, graças aos recursos que de diferentes formas vem adiando uma decisão a respeito.
Abro parênteses para que nesse aspecto da demora em se fazer Justiça, como se diz, lembremos o ocorrido com o jornalista Pimenta Neves, em São Paulo, que confirmado como assassino de sua ex-namorada, a jornalista Sandra Gomide, ficou nada menos que dez anos, isso mesmo, uma década, até que finalmente fosse colocado atrás das grades.
E a Justiça, claro, se arrasta e acaba complicando a imagem que se tem dela, e muitas vezes dos profissionais responsáveis pela mesma, os quais acabam sendo impedidos ou se envolvendo ao longo do tempo com situações que os impedem de realmente fazer as leis serem cumpridas.
É preciso uma mudança, sem dúvida, pois a Justiça não pode se transformar em uma simples palavra, como muitos pretendem, caso do ex-jogador Edmundo, que em irresponsável acidente de trânsito matou três pessoas, e do ex-deputado Carli Filho, que matou dois jovens em ocorrência amplamente esgotada em todos os seus detalhes após dois anos de espera aguardando por uma decisão a respeito.
Polêmico, Edmundo, cujo apelido “Animal” identificava um jogador cercado por episódios que estiveram sempre na mídia, vive hoje aparentemente uma vida debochada para aqueles que aguardam Justiça em relação à responsabilidade do mesmo com as três mortes em suas costas.
Irresponsável, pois como deputado deveria zelar pelo cumprimento das leis ao invés de debochar delas com um comportamento condenável como motorista com carteira suspensa e embriagado ao volante de um veículo transformado em arma, Carli Filho busca hoje, através de recursos, o último dos quais pareceu uma verdadeira zombaria, justificar a morte de dois jovens com a desculpa de uma via preferencial que permitiria velocidade acima dos 170 km/h, deixando no ar uma expectativa que tende a se arrastar, infelizmente, por mais algum tempo.
Essa demora de julgamentos, ensejando desculpas de prescrição e da preferencial, não podem alimentar decisões que encerrem de uma vez a Justiça que as famílias atingidas pelas tragédias aguardam, ainda em desespero.
Mesmo sabendo que condenados ou não, nenhum dos acusados, Edmundo ou Carli Filho, trarão de volta os filhos muito amados que acabaram como vítimas das tragédias e hoje tem suas lembranças substituídas pela palavra saudade.
Vivemos hoje um tempo de mudanças, e nestes casos também aguardamos que as coisas tenham uma mudança.
No caso de Edmundo, que hoje aparece faceiro na telinha da Band, esquecido pela maioria o fato que ali está um irresponsável motorista que matou três pessoas há 15 anos e até hoje não foi condenado, aguardando a prescrição de um crime que continua sendo habilmente empurrado para o esquecimento por hábeis advogados, o sentimento de deboche fica perfeitamente identificado cada vez que o assistimos na TV, como se ali estivesse um exemplo da moralidade pública a ditar regras para os outros.
Quanto a Carli Filho, que obteve de volta seu passaporte, documento que pode habilitá-lo a ficar no exterior sem preocupar-se com a repercussão negativa no seu dia a dia por conta da lembrança daquilo que falam a seu respeito, a última desculpa, da via preferencial que deveria livrá-lo da Justiça segundo os seus advogados, é um claro sinal de que, quanto mais arrastarem no tempo a lembrança da morte daqueles dois jovens, mais distante ficará a sociedade para pedir que finalmente o poderoso cidadão seja colocado no banco dos réus.
Há um agravante ainda maior no caso do ex-jogador, pois ele já foi julgado e condenado, lutando agora para que a pena seja prescrita, pois de “Animal” passou a ser visto como um senhor comentarista esportivo, recuperado para a sociedade por conta de um fato que apenas a ele interessa ser esquecido.
São por situações complicadas como essas que contínuo orando a fim de que se faça Justiça, e, principalmente, para que Cristiane Yared não desanime em sua luta de mostrar que velocidade ao volante de 170 km/h é crime, e não preferencial para a prática de acidentes irresponsáveis. (Luiz Fernando Fedeger)
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