7 de abr. de 2017

Sem dinheiro do Petrolão, Gazeta do Povo vira blog

Jornal é abandonado pelos curitibanos e tenta se reinventar sem recursos de esquemas de corrupção:
Era tudo uma festa nos corredores da Gazeta do Povo entre os anos 2003 e 2014. O jornal fortemente irrigado com recursos dos governos do PT expandia seus lucros, editava cadernos suplementares, patrocinava campanhas no rádio e TV e comprava jornais concorrentes.

Tudo começou dar errado em 2014, quando a Polícia Federal e o Ministério Público Federal iniciaram a segunda fase da Operação Lava Jato e revelaram que o governo do PT e suas principais lideranças - os quais a Gazeta do Povo, defendia em suas páginas – faziam parte do maior esquema de corrupção da história do Brasil.

Políticos e donos de empreiteiras patrocinadores da Gazeta do Povo foram presos no esquema que segundo o Tribunal de Contas da União desviou mais de R$ 30 bilhões dos cofres públicos. E o jornal, de forma direta ou indireta, fez parte dessa rede criminosa que legou ao país seu maior escândalo e sua maior crise econômica.

E o que fez a Gazeta do Povo? Ao contrário do que afirmou no anúncio do fim do jornal na última quinta-feira, 6, o presidente do grupo de comunicação, Guilherme Cunha Pereira, o jornal não fez uma cobertura condizente da operação Lava Jato, das prisões dos envolvidos, dos denunciados e até das sentenças proferidas pelo juiz Sérgio Moro. A Gazeta do Povo, de Curitiba, sede da Lava Jato e o destino de todos os presos na operação, apenas repercutiu a cobertura de jornais como Estadão e O Globo e de revistas como Veja, IstoÉ e Época. Não teve a pachorra de abrir uma editoria dedicada, nem destinou repórteres para cobrir o maior crime de corrupção pouco visto na história do país.

A Gazeta do Povo fez pior: demitiu jornalistas, fotógrafos, repórteres, editores, colunistas, diagramadores, blogueiros, motoristas, trabalhadores da copa e parque de máquinas. Tinha acabado o dinheiro da corrupção que, por vias paralelas, irrigava o bem-estar da família Cunha Pereira. O disfarce caiu e o jornal não conseguiu mais esconder as maracutaias dos governos Lula e Dilma e das lideranças do petismo como Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo, André Vargas José Dirceu, Antônio Palocci, entre outros.

Depois, a Gazeta do Povo fechou as sucursais nas principais cidades do Paraná, fechou o Jornal de Londrina, fechou O Estado do Paraná e está para fechar a Tribuna do Paraná. Com isso, outra centena de trabalhadores foi e vai parar no olho da rua.

Fim do jornal - Nada substitui a informação bem apurada e baseada na verdade dos fatos reportados. E, o maior aliado do veículo de comunicação que traz a público a informação relevante, de valor substancial para o cotidiano das pessoas, é o conhecimento profundo do leitor, ouvinte ou expectador. Quem é? Que idade tem? Quais valores possui? O que faz da vida? É a ele que o veículo de comunicação deve servir e nunca aos donos da empresa jornalística ou aos jornalistas que fazem parte de sua redação.

O afastamento dos leitores custou caro à Gazeta do Povo. Nem a força do grupo de comunicação formado pela filiada da Rede Globo no Paraná, por emissoras de rádio, o jornal popular Tribuna do Paraná, que sempre funcionou bem sob a batuta do ex-dono (Paulo Pimentel), e o Instituto GRPCom, está sendo capaz de salvar a circulação e a audiência daquele que chegou a ser por décadas o maior periódico da capital paranaense. Comandada pelos irmãos Ana Amélia Cunha Pereira Filizola e Guilherme Cunha Pereira, a Gazeta do Povo passou a obedecer a ditadura da pauta programada de acordo com a propaganda paga de governos corruptos, das convicções políticas e religiosas da família.

Pregadores do caos - Outro ingrediente que caiu como uma bomba sobre a circulação do jornal é a falta de experiência profissional, e de vida, dos jornalistas que sobraram para compor a redação da Gazeta do Povo. Aqueles que poderiam ser a referência para os mais jovens foram sumariamente demitidos. Ficaram os “mais baratos” para a empresa, aqueles com sede de fazer justiça com as próprias mãos e dispostos a seguir as ordens dos seus donos. Irresponsáveis, não se mostram capazes de aceitar o contraditório, de conceder o direito da defesa, de reconhecer erros e admitir excessos.

Atento, o leitor da Gazeta do Povo percebeu a mudança da linha editorial ocorrida nos últimos anos. Com o desaparecimento do patriarca, Francisco Cunha Pereira Filho, os irmãos Ana e Guilherme e sua equipe de jornalistas mostraram não ter a mesma sensibilidade para entender que o seu leitor não concorda com a supervalorização da desgraça. O veículo passou a ferir de morte o orgulho que o curitibano sente da cidade.  Livres da Gazeta, os leitores do interior do Paraná vivem de bem com o Estado e seguem comemorando as suas conquistas.

Não se trata da propagada crise vivida pelos jornais impressos. Afinal, países desenvolvidos e que contam com tecnologia de ponta para distribuir livre acesso à internet possuem jornais impressos de grande circulação. A Gazeta, simplesmente, deixou de atender o seu leitor para impor a ele o que julga ser importante. O que muda e molda a sociedade é o seu grau de liberdade. Dogmas, verdades absolutas, atos impositivos, tendem a gerar desconfiança e desembocam no descrédito. O jornal que não conversa com os seus leitores, os jornalistas que não circulam pela cidade para sentir as inquietudes da sociedade, são incapazes de cumprir o seu papel enquanto veículo de comunicação.

Novo projeto - No dia 6 de abril, a Gazeta do Povo lançou seu mais novo projeto editorial. A empresa revelou ter investido R$ 23 milhões em tecnologia para passar a circular apenas uma vez por semana, aos sábados, e entregar seu conteúdo em plataformas digitais. Quem desejar ter acesso as informações, terá que pagar. Mais um passo para se afastar de vez do leitor.

Sem profissionais qualificados, capazes de reconhecer o peso das reais demandas da população, a Gazeta seguirá não produzindo conteúdo relevante. Então, por que pagar por algo que não lhe serve e só atende os interesses dos donos de um jornal moralmente falido?

Contudo, o jornal tem fôlego financeiro para se lançar em aventuras e ignorar a cultura e os desejos dos leitores curitibanos. Foram anos de lucros exorbitantes proporcionados pelo dinheiro público. Também comum era encontrar os principais jornalistas da Gazeta do Povo pendurados em cargos comissionados dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em nível estadual. Indicados por Francisco Cunha Pereira Filho, eles “complementavam” seus já poupudos salários com dinheiro público pago por contribuintes paranaenses.



Lucro com o governo petista

Incluindo a Gazeta do Povo, as empresas do grupo de Ana Amélia e Guilherme Cunha Pereira faturaram mais de R$ 60 milhões com publicidade, entre 2003 e 2014, durante o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Os valores podem ser comprovados no portal da transparência do governo federal. A intermediação do repasse desses recursos foi feita pelo ex-deputado federal petista André Vargas, preso pela operação Lava Jato, pelo ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, petista também preso pela operação Lava Jato, e por sua esposa, a senadora petista Gleisi Hoffmann.

R$ 78 milhões para família Cunha Pereira

Entre os anos de 1995 e 2002, durante as gestões do ex-governador Jaime Lerner, as empresas da família Cunha Pereira, receberam do governo estadual em ações de publicidade R$ 78.043.284,00.

Sequestro fica sem explicação até hoje

Os escândalos envolvendo a família Cunha Pereira, dona do jornal Gazeta do Povo não para só nos milhões recebidos do poder público. Para evitar o indesejado casamento do primogênito Francisco Cunha Pereira Neto, no ano 2000, a família o sequestrou. A noiva, Valéria Colombo, chegou até a receber um pedido de ajuda do noivo, chamou a polícia, mas nunca mais o viu ou soube do seu paradeiro.

A história tem enredo de novela. Em 29 de abril do ano 2000, o irmão de Neto, Guilherme Cunha Pereira, e seu pai, Francisco Cunha Pereira Filho, entraram no apartamento onde o casal morava desde 1998, no bairro nobre do Batel. O psiquiatra Antônio Villela Lemos, acompanhado de uma equipe médica, comandou a ação que mobilizou 12 pessoas, segundo o porteiro Orotildes Gonçalves dos Santos. Lemos chegou a tentar convencer Neto a se internar espontaneamente. Praticante de esgrima, Neto empunhou um florete, e enfrentou a família, médico e enfermeiros, mas foi espetado com uma injeção de tranquilizante e carregado numa maca até a ambulância. Chamada por Valéria, a polícia chegou meia hora depois e considerou o caso “problema familiar”.

Mais tarde, à Justiça, Guilherme declarou que a família separou o casal porque Neto é esquizofrênico, com um quadro que vinha se agravando nos últimos meses. A noiva abandonada se recusou a acreditar na gravidade da doença. “Ele é meio infantil, brincalhão, não gosta de sair, tem poucos amigos. Mas é o jeito dele e eu entendo”, disse à época.

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