2 de jun. de 2011

Diretor-geral do DNIT recomenda tacar fogo nas praças de pedágio


“Chega, vamos dar um basta. O oeste merece muito mais”.

Mais que um grito de alerta, foi um desabafo que vinha sendo contido há muito tempo e explodiu quando o novo governo paranaense, admitindo um acordo com as concessionárias do pedágio, ameaçou um acordo capaz de prorrogar contratos.

Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), nem parecia uma autoridade quando transformou a tribuna que ocupava na 3ª Assembleia da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), em Cascavel, na última terça-feira (31), jogando merda no ventilador.

“É preciso gritar, invadir ou queimar praças de pedágio. A hora é de ousadia”, disse ele em alto e bom som, pouco se preocupando com a repercussão de seu discurso feito perante prefeitos, deputados, lideranças empresariais da região e outros que se faziam presentes em evento público.

A reação, como era natural, foi imediata.

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), que tem no seu comando João Chiminazzo Neto, reagiu dizendo que tal pronunciamento era um claro incentivo à desobediência civil e como tal deverá motivar, pelo menos, um pronunciamento das autoridades judiciárias.

O desdobramento de tal situação fez lembrar, como era natural, a disposição do governo Beto Richa (PSDB) que deu uma trégua de 180 dias para negociar com as concessionárias uma possível redução de tarifas, quando estas nada ofereceram em troca, pedindo, inclusive, a suspensão de ações do estado em andamento na Justiça só para concordar em sentar à mesa das negociações, deixando a clara impressão que estão com a faca e o queijo na mão.

O esgotamento da paciência, que em outras ocasiões já explodiu através de caminhoneiros, sem terras e outras classes unidas com invasões às praças de pedágio se torna agora mais ameaçador por conta deste discurso explosivo e que não deixou a menor dúvida quanto ao espírito de revolta dos usuários de nossas rodovias.

Reclamando a duplicação de um trecho de apenas 70 km entre Cascavel e Medianeira, que em apenas dois anos já causou mais de dois mil acidentes com 84 mortes, Pagot disse aquilo que muitos usuários tinham vontade de dizer nos últimos tempos, irritados com as abusivas tarifas que são cobradas em todo o estado e sem um retorno convincente por parte das concessionárias.

Refletindo claramente “a mistura de medo com instinto de sobrevivência” que domina aqueles que viajam pela BR-277, conforme bem disse um usuário desta rodovia, o diretor-geral do DNIT que é natural da região e sentiu na carne os efeitos desta cômoda situação das concessionárias que apenas prometeram, mas jamais cumpriram o retorno em obras dos contratos mantidos com o governo paranaense, deixou claro que o próprio governo federal deve examinar com urgência os contratos de pedágio em nosso estado e no país.

Recentemente a senadora Gleisi Hoffmann (PT) recomendou ao governo um exame da situação reclamada pelos usuários das rodovias paranaenses em relação ao pedágio, e viu as providências serem tomadas com uma recomendação ao Tribunal de Contas da União para que examine com cuidado os contratos do pedágio, especialmente no que se refere à taxa de lucros que absurdamente mete a mão no bolso dos usuários para compensar as concessionárias que nada dão em troca, senão o mínimo que representa verdadeiro deboche.

Seja ou não um ato de desobediência civil recomendar que sejam queimadas as praças do pedágio, a verdade é que partindo do diretor geral do DNIT tal pronunciamento calou fundo nos usuários de nossas rodovias que já estavam com o saco cheio, ainda mais depois daquele papo do governo Beto Richa da prorrogação de contratos, algo que representa mais um senhor presente às concessionárias que atuam no Paraná.

E agora?



O LADO CONFORTÁVEL DAS CONCESSIONÁRIAS DO PEDÁGIO

Enquanto os usuários reclamam os empresários nadam de braçadas...


Não é em vão o chio dos usuários de nossas rodovias em relação ao pedágio, agravado agora com a manifestação do diretor-geral do DNIT, Luiz Afonso Pagot, que recomendou até que sejam invadidas e queimadas as praças de pedágio caso não sejam atendidas as reivindicações daqueles que estão cansados de pagar, pagar, e pagar altas taxas de pedágio sem nada, ou muito pouco, receber de parte daqueles que nadam de braçadas em um mar de prosperidade.

Alcançando um faturamento que fez suas arrecadações subirem nada menos que 238% nos últimos nove anos, sem precisar de nenhum milagreiro do tipo Palocci que multiplica patrimônio vinte vezes em quatro anos, as concessionárias do pedágio vivem confortável situação já que seu “negócio” só não é mais lucrativo que o tráfico de drogas, mas superando até mesmo o lucro dos banqueiros.

Com correções de tarifas que triplicaram desde o início das concessões, as empresas do setor tiveram um aumento de 185% em taxas, fazendo lembrar que em 2001 começaram faturando anualmente R$ 355 milhões e hoje mergulham, tal qual Tio Patinhas na piscina de dinheiro, em faturamento da ordem de R$ 1,2 bilhão.

E olha que em tais cálculos, publicados nesta semana pela Gazeta do Povo, não estão registrados os resultados dos dois anos de início da concessão do pedágio, de 1998 a 2000, quando elas mal começavam a mergulhar em lucros inimagináveis por conta do verdadeiro presente recebido do governo Lerner e avalizado durante os governos Requião-Pessuti.

Justamente quando imaginavam que o prometido governo de mudanças de Beto Richa iria colocar um paradeiro nesta vergonhosa situação, eis que o irmão do governador, José Richa Filho, o Pepe Richa, em pronunciamento como secretário dos Transportes jogou balde de água fria nos usuários de nossas rodovias ao anunciar um “acordo” que facilita somente as concessionárias e deixa os paranaenses como bobos da corte que ainda tinham esperança de um bate-pronto capaz de receber uma contrapartida a altura do que os empresários do setor solicitaram e que foi a suspensão de processos.

Repassando ao público os custos do pedágio, por causa do tráfego pesado que circula por nossas rodovias, a atual situação paranaense está a exigir urgentes providências, sendo o maior obstáculo a taxa de retorno das concessionárias que não pretendem reduzir o lucro de jeito nenhum já que há muitos anos nadam de braçada no Paraná.

Nesta dança dos números, as concessionárias paranaenses já arrecadaram nada menos que R$ 7,6 bilhões em 12 anos de contrato, fazendo apenas R$ 2,3 bilhões de investimentos em nossas rodovias e anunciando uma despesa operacional da ordem de R$ 3,2 bilhões.

Enquanto no Rio Grande do Sul o faturamento de todas as empresas de pedágio rendeu R$ 422 milhões em 2010, no Paraná só uma empresa faturou mais ou menos essa quantia, sendo que somadas todas as concessionárias o faturamento do ano passado foi da ordem de R$ 1,2 bilhão.


Acordo

Pepe Richa, todo entusiasmado, tentou a princípio convencer os usuários das rodovias que estava fazendo um grande negócio com o tal acordo que deu trégua às concessionárias suspendendo os processos contra as mesmas por 180 dias, discutindo nesse tempo a redução de tarifas, quando o próprio governo sentiu os reflexos deste anúncio que chegaram ao público de forma negativa.

Perdendo a paciência com a facilidade das concessionárias que deitam e rolam em termos de cumprimento dos contratos no que diz respeito a obras, o discurso do diretor-geral do DNIT, nesta semana, foi uma resposta mais contundente ao governo paranaense em relação a esta nova facilidade concedida aos empresários do setor que nadam de braçada na dinheirama que rende o pedágio paranaense.

Uma situação que na verdade o governo federal vai decidir, pois tudo dependerá do seu aval e não de qualquer acordo que possa o governo paranaense fazer com as concessionárias, o que deixa o assunto, como se fiz, para chegar a um furo mais embaixo.

Se politicamente o novo governo imaginou faturar em popularidade junto aos usuários de nossas rodovias, o tiro saiu pela culatra porque já começou, mais do que nunca, a desgastar consideravelmente a imagem de Beto Richa perante aqueles que continuam custeando as absurdas tarifas do pedágio em nosso estado.


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