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Antonio Palocci e Dilma Rousseff (Foto - Agência Estado) |
De repente passei a me sentir, assim como a maioria dos brasileiros, igual ao Francenildo, aquele caseiro cuja privacidade acabou sendo invadida por ordem de uma autoridade federal responsável pela área financeira do governo.
Tudo porque, na época, um simples cidadão brasileiro ousou desafiar poderosos interesses políticos.
Foi a primeira vez em que o poder de Antonio Palocci se fez sentir em toda a sua plenitude.
Há poucos dias um novo episódio e, desta vez, transformando, ou pelo menos tentando, a todos nós em Francenildos que podem ser manobrados facilmente pelo poder de fogo do governo central.
Nos últimos tempos, aliás, é bom que sejam lembradas certas situações que muitos não se dão conta, mas identificam plenamente um tipo de comportamento ao qual estamos nos sujeitando sem uma reação maior.
Foi assim quando Lula e Zé Dirceu viram seus nomes intimamente ligados por episódios que no intestino do governo, por assim dizer, comprometiam seriamente as imagens da administração federal e de muitos políticos.
O episódio do Mensalão só não teve desdobramentos ainda maiores porque Zé Dirceu seguiu o conselho de Roberto Jefferson e saiu do governo antes que o atual presidente nacional do PTB o escrachasse e deixasse o “rei” totalmente nu.
Foi um dos mais lamentáveis episódios políticos de que se tem notícia dentro de um governo em que, pobre coitado, distante apenas algumas salas do companheiro que manipulava situações, verbas e políticos em nome do governo por conta de um tal de mensalão, prática de aliciamento do poder que garantia maioria, dizia não saber de nada do que vinha acontecendo.
Lula preferiu afastar-se de Zé Dirceu evitando a mancha total, embora com este, por conta do PT, mantivesse relações que sempre foram as mais estreitas possíveis.
Mensalão à parte, já que é um assunto que ainda vem sendo analisado na esfera competente, vamos a outro fato mais ou menos parecido.
Em plena campanha política, de repente, não mais que de repente, eis que surge uma Erenice Guerra a empanar a história de Dilma Rousseff candidata a sucessão de Lula.
Depois de algum tempo de desgaste chegou-se, a exemplo do que aconteceu no caso Zé Dirceu, a conclusão de que era preciso desembarcar Erenice Guerra e limpar a imagem do ator principal, neste caso a candidata Dilma Rousseff.
Agora, nos primeiros dias do novo governo, que apesar de Erenice Guerra saiu vitorioso na última eleição, um novo episódio enriquece o folclore político nacional.
E, mais uma vez, Antonio Palocci, que já havia sido ator em um episódio com o caseiro Francenildo, volta às manchetes.
Desta vez por uma situação em que busca transformar todos os brasileiros em Francenildos, fáceis de serem manobrados graças ao poder central do país.
Quem imaginou que, a exemplo do que ocorreu durante o governo Lula haveria a sugestão de Palocci tirar o time, caiu do cavalo.
Muito pelo contrário, Dilma puxou o ministro-chefe da Casa Civil para dentro da proteção presidencial e bateu de frente com a oposição que insiste agora numa CPI capaz de escrachar de vez para o país todos os detalhes de um “milagre” que só Palocci seria capaz de realizar nos dias atuais.
Tendo multiplicado seu patrimônio em mais de vinte vezes em apenas quatro anos, tempo em que era deputado federal e todos os políticos nestas condições se queixam que é o tempo em que perdem mais dinheiro, Antonio Palocci tenta transformar todos os brasileiros em Francenildos, que pretende enganar com a maestria de quem se tornou o mais esperto dos filhos desta terra de Cabral.
Protegido por um governo no qual se abriga, e que julga já terem sido dadas explicações suficientes para o verdadeiro milagre da multiplicação patrimonial, Palocci ganhou força, renovou sua condição de ministro inatingível e agora parte para o enfrentamento com todos aqueles que duvidem que, de fato, ele foi capaz de em apenas quatro anos multiplicar seu patrimônio em mais de vinte vezes.
Em um país que somente agora começou a colocar a cabeça para fora do espaço econômico mundial onde estavam mergulhados os subdesenvolvidos que viraram emergentes, o “milagre” da multiplicação patrimonial promovido por Antonio Palocci deixou de ser apenas um milagre propriamente dito.
Virou o mais explícito deboche de um homem público ao povo brasileiro.
Diante de uma pressão que tenta vencer a máquina montada pelo governo para blindar o seu ministro, só nos resta esperar que a Justiça cumpra o seu papel e resgate a dignidade que foi totalmente abalada na instituição chamada governo.
De tudo o que menos o Brasil precisa nesta altura é um “milagreiro”. (Luiz Fernando Fedeger)
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