Para Gilberto Rocha, problemas das regiões estão ligados aos baixos recursos deixados pelas mineradoras no estado através dos royalties
O geógrafo, Gilberto Rocha, professor e diretor geral do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), questionou os interesses dos grupos que pretendem dividir o Estado. Segundo ele, “a população está sendo iludida por esses grupos e envolvida na situação”. No próximo domingo, eleitores de todo o estado votarão pela divisão, ou a unidade do Pará.
O pesquisador apontou as consequências de uma divisão no caso da região de Parauapebas, um dos dez municípios com maior PIB (Produto Interno Bruto) no estado. Por não haver uma fonte de recursos para que estes estados se financiem, as condições sociais da população não sofreriam mudanças. “A divisão não vai resolver os problemas imediatos de Carajás e, portanto, de Parauapebas, como educação”, argumentou, em entrevista ao portal ORM, do Pará.
“Parauapebas está em uma região privilegiada, no centro da mais rica província mineral do mundo. No local, já foram encontrados diversos minérios, metais e pedras e os serviços de geologia continuam registrando a presença dos minérios. Por isso, o município tem como sua principal fonte econômica a exploração mineral. Mas mineração nunca traz desenvolvimento pleno, pois os royalties pagos pela empresa para o município são inferiores ao que a empresa ganha com a atividade extrativista e manda para fora do país. Mesmo Parauapebas sendo um dos municípios paraenses que mais arrecada e contribui para o PIB estadual, é pobre porque o dinheiro que fica não é suficiente”, pontua Rocha.
O professor afirma ainda que as regiões recebem muitos recursos do Estado. “Não é correto dizer que o Governo do Estado não investe naquela área, ao contrário, grande parte dos investimentos estaduais são direcionados para aquelas áreas e não para Belém, como muitos pensam”.
“Os problemas não estão ligados à desigualdade de recursos distribuídos pelo Governo do Estado, mas sim à desigualdade dos recursos deixados pelas empresas que se instalam lá”, afirmou. “Como a população daquele local é carente, fica na esperança de que, com a divisão, todos os recursos fiquem lá, mas isso não vai acontecer”, alerta. A Vale é a mineradora que realiza as operações de extração na região.
Para a professora Regina Reis, da Universidade Federal do Pará, a população que vive nas regiões não será beneficiada com a divisão do estado.
“A divisão vai favorecer uma dúzia de pessoas”, constata. “Esses grupos são interessados nos assuntos, porque serão criados novos cargos políticos e órgãos públicos e, assim, poderão aumentar seus poderes na região”, destacou.
Ela aponta ainda que a discussão deve partir do ponto de vista dos moradores da região e não dos interesses, “Se pensarmos assim, veremos que a divisão não irá favorecer a maioria das pessoas. Então, do ponto de vista social, não será vantajoso para o coletivo”, enfatizou.
Fronteiras
A proposta de criação dos dois estados, Carajás e Tapajós, têm endereço certo. As demarcações de território que estão nas propostas, que serão votadas no plebiscito ,sofreram alterações para que a Usina Hidrelétrica de Tucuruí e a de Belo Monte (ainda em construção), ficassem nos novos territórios. Até mesmo, algumas pessoas a favor da divisão, apontam que as fronteiras dos estados pretendidos foram além da conta.
“O Tapajós ter anexado o Xingu, algo antes nunca sequer imaginado (não da perspectiva sociocultural, deixada de lado por quem tem todos os olhos fixados no projeto da usina de Belo Monte); ou, como Carajás, engolido mais municípios e ido mais ao norte para incorporar a hidrelétrica de Tucuruí, por uma diretriz oportunista que desdenhou os fundamentos técnicos da identidade cultural e geográfica”, afirma Luis Flávio Pinto, do Diário do Tapajós em artigo.
Ele se surpreende ainda com outro fato constrangedor para os separatistas: “É de surpreender que os autores dos projetos de criação dos Estados de Carajás sejam de outros Estados”, aponta.
A tentativa de divisão dos estados surgiu, no Senado Federal, a partir de projetos de lei de senadores de outros estados, no caso de Tapajós, Mozarildo Cavalcanti (PTB), de Roraima; e Carajás, pelo então senador Leomar Quintanilha (PMDB), de Tocantins. (Hora do Povo)
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