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8 de nov. de 2011

UMUARAMA: Mãe denuncia descaso na saúde pública do município

Criança de 8 anos ficou sem atendimento em posto de saúde; para não ver filha morrer, mãe pagou consulta


Enquanto as ruas são embelezadas e as ruas pavimentadas, principalmente onde estão sendo construídos prédios, a saúde pública em Umuarama passa por um verdadeiro caos. Pacientes esperam meses nas filas a espera de autorização para uma cirurgia e os que procuram os postos de saúde e hospitais de plantão não são atendidos. Uma mãe, revoltada com o descaso para com sua filha de 8 anos, denunciou através de e-mail encaminhado à imprensa o drama vivido por ela e a criança na noite do dia 30 de novembro.

Segundo a mãe Rosi Rodrigues, sua filha caçula Ranauê Cristina, sentiu fortes dores abdominais acompanhada de vômito na noite do dia 30. Preocupada com o estado da garota ela procurou ajuda médica no Pronto Atendimento Municipal (PAM), unidade de saúde mantida pela prefeitura. Porém, apesar do estado de saúde da criança exigir cuidados especiais, de acordo com ela, não houve atendimento. “O pátio do PAM estava todo sujo, enlameado - um ambiente horrível e deprimente - dezenas de crianças e adultos esperavam para serem atendidos. Havia vômito e sangue no chão. Os atendentes não se dignavam a dar uma informação. Mal olhavam para o rosto das pessoas ali, a maioria desesperada. Como minha filha reclamava muito, resolvi levar direto para o Hospital de Plantão (Instituto Nossa Senhora Aparecida). Chegando lá paguei R$ 200 por uma consulta, o médico veio prontamente atender. O ambiente era limpo e muito agradável, havia sofás, pufs, um banheiro limpo, chazinho, café e até bolachinhas. O médico foi excelente, educado, atencioso, nos fez sentir muito mais seguras. Fez um bom exame clinico completo, conversou, investigou e explicou. Com a Rana devidamente examinada, passei na farmácia, comprei os medicamentos (três sacolas de remédios – R$180) e fui para casa. Contudo, mesmo depois de medicada, ela continuou passando mal, com vômitos e se queixando de muitas dores. Por volta da meia noite, a Rana ficou pior, vomitando muito e dizendo que não aguentava mais e se contorcia de dor. Assustada, resolvi voltar às pressas para o hospital. No caminho liguei para que o médico pudesse ser acionado o mais rápido possível, pois a menina estava desmaiando. Mas, para minha surpresa e decepção - a atendente me informou - com uma indiferença que me fez arrepiar - que ele não me atenderia, pois já havia encerrado o expediente. E secamente, me disse que essa era a sua última palavra. Eu não queria acreditar, afinal, eu já havia levado minha filha na clinica dele e fomos muito bem atendidas. Então pedi que viesse outro médico. Mas, a recusa foi na hora. Se eu aceitasse pagar outra consulta (R$200) poderia até pedir outro médico - o que levaria um bom tempo, pois ele teria que ser chamado, levantar, sair de casa e se dirigir até o hospital - caso contrário - que minha filha fosse atendida pelo sus. Naquele momento, já estávamos no Pronto Socorro do hospital.

Mas, ora bolas, eu tinha pagado por um serviço particular, onde estão os meus direitos?”“, desabafou a mãe.

De acordo com ela, diante da recusa da atendente do hospital em chamar o médico para que novamente consultasse a criança, ela decidiu pagar mais uma consulta para não ver a filha morrer. Segundo a mãe, não havia nenhum médico de prontidão para atender a criança no momento e então era necessário esperar mais um pouco, porém, como o estado de saúde da criança estava muito agravado e quando ela e a secretária entraram em um acordo, a menina estava praticamente desmaiada no colo dela.

Diante da emergência, o médico plantonista do SUS atendeu a menina, pois ela não tinha mais condições de esperar por socorro. “Fui com ela ao consultório público- quanta diferença - a minha menina se contorcendo em dor e nenhuma cadeira havia para se sentar e esperar ser atendida. O pior - nem lençol tinha para colocar na maca - que estava visivelmente suja, com marcas que não sei se eram fezes ou sangue. Perguntei ao médico: como colocar minha filha doente em cima dessa sujeira, ele sequer respondeu - parecia envergonhado - A situação era tão horrível que fiquei com medo de ela contrair outras doenças ali. Tirei minha jaqueta e estendi na maca para ela deitar em cima, ou deitava naquela maca suja para ser examinada, ou não seria examinada. O médico de plantão - muito atencioso - a examinou novamente, mas disse que o certo é que o médico que havia atendido primeiro viesse reavaliar. Ele apenas mandou dar mais uma dose dos remédios de dor e vômito e liberou para voltar para casa. Como não sou de me calar, reclamei ao outro médico da atendente do hospital, que não teve a mínima sensibilidade com uma mãe que estava ali com a filha doente - quem é mãe sabe do que estou falando, segundo ele, cumpria ordens para não chamar o médico em hipótese alguma. Quando ela ouviu lá de fora que eu reclamava dela, invadiu o consultório, interrompendo a consulta, visivelmente alterada querendo se justificar e eu disse calmamente que não tinha justificativa. Ela gritou comigo como se eu estivesse reclamando de um defeito em um sapato ou roupa que mandei consertar, minha filha doente e eu deveria ainda ficar calada. Ela dizia que não podia fazer nada, que a culpa era do médico que desligou o celular, eu não estava em uma loja, mas em um hospital. Não reclamava por um defeito em uma coisa, mas da saúde da minha filha. Eu tinha o direito de estar alterada, nervosa e até de gritar, se fosse o caso”, argumentou a mãe.

Conforme a mãe, diante de tanto descaso e humilhação a indignação foi crescendo e então ela se identificou como jornalista e ameaçou denunciar a o caso se sua filha não fosse devidamente atendida. “De repente, algo aconteceu, todos vieram me atender. Até o médico que recebeu a consulta e estava com o celular desligado me telefonou momentos depois, muito educado, muito gentil, mas, naquela altura tudo que não poderia acontecer já tinha acontecido. Não sou da área da saúde, mas, creio que uma criança com esses sintomas deveria ter sido internada, já no primeiro atendimento. Nem que fosse para tomar um soro e depois ser liberada. Eu passei a noite em claro ao lado dela, com aquele sentimento de mãe - se eu pudesse trocava de lugar com a minha pequenina. Não quero atendimento especial porque sou da imprensa - quero atendimento igual e de qualidade para todas as mães, que como eu, lutam para que seus filhos tenham o melhor”, finalizou a mãe.

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