23 de set. de 2020

Funcionários da Sercomtel preocupados com a falta de informação sobre a venda da empresa

 Relatos afirmam que falta de transparência no processo de desestatização da empresa estão afetando os empregados da telefônica

Telma Elorza

O LONDRINENSE

Foi assinado, semana passada, o contrato entre a Prefeitura de Londrina, sócia-majoritária da Sercomtel Telecomunicações, e a Bordeaux MultiEstrategias Fundo de Investimento em Participações, que adquiriu preferência de ações da empresa. O processo ainda precisa ser aprovado pela Anatel, para ser efetivado. No entanto, os funcionários da empresa londrinense só estão sabendo disso porque foi noticiado pela imprensa.

Nenhuma informação está sendo repassada pela diretoria ao funcionários concursados, que não sabem o que vai acontecer quando tudo for definitivo e empresa mudar de mãos. Vários estão doentes, abalados psicologicamente, com medo de uma demissão num futuro próximo, depois de anos de trabalho e dedicação. O LONDRINENSE foi ouvir alguns para saber como estava sendo o processo internamente e ficou surpreso com os relatos dos funcionários, que terão identidade preservada para não haver retaliações. Esperava-se mais transparência de uma empresa de economia mista, onde o maior acionista ainda é uma prefeitura que se autoproclama a mais transparente do Brasil.

“O clima organizacional está péssimo desde a notícia do início do processo de caducidade aberto pela Anatel, em setembro de 2017. Então, estamos há três anos vivendo diariamente um clima de incerteza que atrapalha o desempenho profissional e, inclusive, a nossa vida pessoal fora da empresa, explica um deles.

Segundo o funcionário, os desdobramentos da caducidade levaram a diversas situações, boatos, receio e instabilidade emocional. “Internamente a empresa até criou uma comissão e havia a promessa de acompanhamento psicológico aos empregados durante este período. Mas, na prática, quase nada foi realmente feito”, afirma. De acordo com o ele, o presidente Cláudio Tedeschi raramente se comunica com o pessoal. “Dentro da empresa não temos acesso a detalhes da condução da situação toda”, afirma.

Outra funcionária também reclama da falta de transparência e do clima de insegurança geral. “As poucas informações que os empregados têm ficamos sabendo pelos veículos de comunicação, pois não há abertura para diálogo, questionamentos e esclarecimentos. Reuniões sempre a portas fechadas e o que descobrimos é o que ouvimos pelos corredores, o que provoca maior apreensão ainda sobre nosso futuro aqui”, diz.

Segundo ela, o medo geral é de demissão, visto que o próprio presidente da empresa e o prefeito já disseram que não podem garantir o empregos e que isso dependerá do novo controlador. “Apesar do que foi dito pelo prefeito Marcelo Belinati aos veículos de comunicação da cidade, não houve diálogo conosco, ele não deu abertura nenhuma para que profissionais que estão há anos aqui e que têm profundo conhecimento de telecom pudessem apresentar um estudo – projeto que foi desenvolvido – para recuperação da empresa”, afirma.

“Os diretores mal falam com os empregados e quando falam nos dizem que não temos que ficar questionando nada, pois quem tem que decidir os rumos da empresa são os acionistas. Nunca tivemos suporte psicológico nenhum, aliás vários empregados têm ficado doente em decorrência de toda essa pressão”, afirmou um terceiro funcionário. “Eu já sofri assédio moral depois de questionar tudo isso. E tem um diretor que gritou, por mais de uma vez, dizendo que quem não estivesse alinhado aos interesses da Diretoria cairia fora”, explica.

Segundo um dos funcionários entrevistados, a maioria sabe como funciona os processos de privatização e os mais velhos de casa sentem medo de acontecer o mesmo que aconteceu com os funcionários da antiga Telepar, “que foram trabalhar um dia e no outro não puderam nem entrar nas dependências da empresa para pegar os seu pertences. Tem pessoas aqui que dedicaram a sua vida a Sercomtel”, lamenta.

A maioria dos funcionários ouvidos querem ter a oportunidade de provarem ao novo controlador que podem e devem permanecer no trabalho, “porque se a Sercomtel está em pé até hoje é por nossa causa, nosso esforço, nosso sacrifico, nosso sangue. As administrações são as maiores culpadas pela situação da Sercomtel, não os funcionários como eles querem passar para a população de Londrina. Não somos nós que recebemos salários estratosféricos, são eles”, aponta um dos funcionários.

“A Sercomtel sempre foi um cabide de emprego de apadrinhados políticos, com altos salários, nos cargos de diretoria. Recentemente, tivemos o caso da assessora da presidência, esposa de um assessor do prefeito, contratada por R$8 mil e que nunca aparece no trabalho”, diz uma das entrevistadas. O caso foi mostrado pelo O LONDRINENSE nesta matéria.

Segundo eles, quando foi conveniente para a diretoria, os funcionários foram mantidos em home office, mas, depois do leilão, os diretores exigiram a volta ao trabalho presencial. Isso só não ocorreu porque foi feito uma denuncia no Ministério Público do Trabalho (MPT) e a situação do covid-19 no município se agravou nos últimos dias. “No entanto, os atuais diretores estavam irredutíveis quanto a volta dos trabalhos presenciais”, afirmaram.

O LONDRINENSE está tentando ouvir o presidente da Sercomtel. Assim que tivermos retorno, publicaremos uma atualização desta matéria.

Fonte: O Londrinense

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